Que grande noite a do sábado passado. Na agenda do XII Festival de Música Moderna Corroios'2007 anunciava-se a final. Apenas 3 projectos podiam pisar o palco, dos 10 seleccionados, motivo que deixou muitos elementos do núcleo duro do Festival com uma ruga que expressava a inevitável injustiça dos concursos. Será justo avaliar com os mesmos critérios bandas com princípios, sonoridades e atitudes diferentes? Claro que não é, mas queremos que fique ciente que nem o Festival de Corroios nem outro concurso do género será o espelho de todo o vosso talento.
Sentia-se uma certa tensão no ar, mesmo que os protagonistas quisessem mostrar que aquele seria apenas mais um concerto e “Tá-se bem!” ouvia-se um pouco por todo o lado, não estivéssemos nós na margem sul, o berço desta expressão. A verdade, é que na final do Festival de Corroios estava-se tudo menos bem, pois era impossível esquecer que aquela seria a noite da grande decisão. Pelos corredores iam-se vendo os protagonistas com o fantasma dos nervos a pairar, uns disfarçavam mais e outros menos. Uma coisa era certa, à porta amontoava-se uma multidão e a fila estendeu-se por mais de 15 metros. Com a casa cheia, a celebração da boa música nacional ia terminar em beleza.
A inaugurar o palco a banda da zona, Skalibans, que entrou segura não por presunção mas porque o estilo em questão só faz sentido com uma postura descontraída e despojada. O público estava com eles e eles com o público numa comunhão de energias pouco habitual em bandas que ainda não têm álbuns editados. Ao projecto de Almada foi-lhe atribuído o segundo lugar do pódio. O prémio foi uma guitarra e um amplificador, oferta dos parceiros do Festival Lismúsica e Teamúsica.
Logo depois Maria Dollita, a boneca de serviço com um laçarote cor-de-rosa ao pescoço, acompanhada pelos seus “puppets”, foram muito bem acolhidos pela multidão. The Doll and The Puppets confidenciaram que sentiram-se tensos ao entrar em palco, o que não é de estranhar, afinal vieram de Torres Novas com a esperança de uma vitória. Tensos ou não, o público amou-os, especialmente quando o muito orelhudo “Am Stram Gram” soou aos quatro cantos do Cine-Teatro do Ginásio Clube de Corroios. A banda voltou para Torres Novas com um digníssimo terceiro lugar e a oferta de um baixo pela Lismúsica.
Não é ao acaso que se diz "os últimos são sempre os primeiros". Embora não seja sempre assim, no Sábado passado, fez-se mesmo justiça ao ditado. Os the Cynicals foram a última banda a ser apresentada a concurso e embora tragam na bagagem algumas vitórias de outros festivais, nem Corroios lhes resistiu concedendo-lhe mais um primeiro lugar. O júri da final, composto por 11 elementos, concedeu-lhes por unanimidade, o título de projecto vencedor 2007. Alguém disse “Cynicals são aquilo que uma banda deve ser em palco; sangue e suor”. E isso é tão verdade, como é vê-los com apenas 8 meses de existência a revelar em palco a cumplicidade atribuída a bandas que há muito tempo andam a dar cartas. E não há duvidas que temas como “Emily Rose” ou “On Sunday” serão um enorme sucesso na carreira dos the Cynicals, quer ganhassem ou não o Festival de Corroios. E pela humildade da banda é caso para dizer que o sucesso está à espera deles mais até, do que eles do próprio sucesso. O prémio, a gravação no Boom Estúdio de um CD-EP.
A banda convidada veio de Coimbra, Bunnyranch. Vêm da grande escola que é Coimbra em termos musicais. Da cidade dos estudantes há uma energia vibrante para projectos de rock, qual Seatle por excelência a casa do Grunge, mas em escalas completamente diferentes. Os Bunnyranch trazem um novo trabalho “Luna Dance” que apresentaram ao público de Corroios que esteve com eles até ao fim.
A noite foi igualmente marcada pela homenagem da Junta de Freguesia de Corroios e equipa que organiza o Festival, a António Nabiça, responsável máximo pelo evento entre 1996 e 2005 e membro da organização desde o seu início até à presente edição. Foi oferecido um quadro de Cidália Rodrigues, artista plástica da Freguesia, e enaltecido o trabalho realizado em prol da nova música portuguesa.
E foi assim a final da XII Edição do Festival de Música Moderna de Corroios. Aqui o fim será, por certo, o início para estas bandas que ficarão eternamente associadas ao Festival e que a Junta de Corroios não se vai esquecer. Não exaltamos o talento para depois o lançar aos tubarões. A esta casa serão sempre recebidos de braços aberto, não fossemos nós próprios abraçados pelo Cristo Rei. Esperemos que a Ponte 25 de Abril seja para vocês bem mais do que a passagem para a outra margem...porque em Corroios é mesmo outra música. Voltamos a ver-nos em 2008!
Fotos | http://www.jf-corroios.pt/index.php?option=com_rsgallery2&Itemid=68&catid=4